quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Nneka e a nova música africana

Em nosso último dia em Lagos encontramos, por acaso, em nosso hotel, uma jovem cantora que promete não deixar o legado do cantor Fela Kuti morrer. Trata-se de Nneka, que é considerada a Lauryn Hill africana por sua voz e engajamento político. A artista, que completa 29 anos em dezembro, além de fazer um som bem diversificado, tem também uma origem multicultural, pois seu pai é nigeriano e a mãe é alemã, apesar de afirmar que se considera "mais africana do que européia". Uma das causas que Nneka mais discute em sua música é o conflito na região do Delta do Níger- território que grupos guerrilheiros reivindicam a separação do resto do país. A artista é bastante engajadas na solução dos problemas que afetam o continente africano e em especial sua terra natal e cenário de seus clipes, a Nigéria, vitimada por anos de corrupção, miséria e descaso.

O som de Nneka é uma mistura de reggae, rap, jazz, funk, trip hop, soul e é claro, afrobeat - ritmo tipicamente nigeriano. Recentemente a cantora fez uma turnê com o cantor jamaicano e filho do rei do reagge, Damian Marley. Para a Copa do Mundo da África do Sul, Nneka gravou a música "Viva África" com objetivo celebrar o primeiro evento desse porte em solo africano. Nneka que tem um músico brasileiro na banda nunca veio ao Brasil, mas, segundo contou para nossa equipe, tem planos de realizar um show por aqui em breve.

Confira abaixo o clipe "Africans" e conheça mais sobre o trabalho de Nneka que representa a nova música africana (http://www.nnekaworld.com)







domingo, 14 de novembro de 2010

Futebol Sul-africano



Ontem foi um dia muito especial para a equipe do Panáfricas. Fomos a uma partida de futebol no famoso Soccer City, o mais belo dos estádios da África do Sul, criado para a abertura e encerramento da Copa do Mundo que aconteceu por aqui esse ano.

Por sorte, assistimos o maior clássico do futebol sul-africano e um dos mais animados do mundo: Orlando Pirates X Kaizer Chiefs. Os dois times foram criados na Township (Favela) de Soweto. O Pirates é o mais antigo clube da África do Sul, fundado em 1937, e é conhecido como o time "The Happy People". Já o Kaizer Chiefs é mais atual, criado em 1970, e são conhecidos como Amakhosi, ou "chefes" na língua Zulu, o idioma predominantes na cidade de Johanesburgo. É incrível como os sul-africanos, especialmente os negros, adoram futebol, por toda parte é possível achar alguém vestido com a camisa do Brasil e dia de sexta-feira é dia nacional de usar camisa da selecão sul-africana no trabalho. Vimos até um ministro aderindo à tradicão iniciada na Copa em pleno expediente.


Entretanto, mesmo com o fim do Apartheid, percebemos que futebol ainda não é um esporte que brancos participam por aqui. No estádio raramente os víamos na arquibancada e quando os avistávamos estavam sempre celebrando entre si. O mesmo acontece com os indianos e os coloreds (mestiços). Precisamos assistir uma partida de Rugby para saber se a recíproca é verdadeira.

Falando do jogo: a equipe do Panáfricas teve a dificil missão de, como manda a tradicão competitiva do futebol, escolher um time para torcer. Não tínhamos critérios definidos. Depois de muito debate pela camisa mais bonita e a torcida mais animada, escolhemos os Orlando Pirates, que assim como o Esporte Clube Bahia representa a "Tradicão de vitórias" aqui na Africa do Sul (sic).

Devemos confessar que apesar do Brasil ter o melhor futebol do mundo, os sul-africanos são muito bons no quesito animacão. Especialmente quando se trata de tocar as famosas vuvuzelas, as barulhentas (e até irritantes) cornetas que ficaram conhecida pelo mundo durante a Copa do Mundo. Não podemos esquecer as dezenas de danças que são feitas durante a partida que deixam uma marca especial aos jogos locais. Outro fator interessante é que a torcida é toda mista (entre times rivais). Isso pelo fato de que a rivalidade até então fica apenas em campo e não haver muitos casos de violência, coisa que dificilmente aconteceria no Brasil das " gangues organizadas" no futebol.

Voltando ao jogo, ficamos impressionados quando nos primeiros minutos do jogo o Orlando tomou um gol dando sequencia a um banho de futebol do Kaiser Chiefs que venceu a partida por 3X1, deixando os torcedores do Kaiser enlouquecidos e os do Pirates um pouco menos alegre - pois até mesmo com a derrota era possível ver bandeiras do Pirates agitadas por todo o estádio. Como bons torcedores do Bahia, acostumados as "adversidades" do futebol, também saímos alegres do jogo, tendo a certeza que na terrinha uma notícia boa estava por chegar:  o Bahia voltaria a primeira divisão do futebol. Bôra Baêa!!! 


Links:

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Entrevistamos Lula em Maputo, Moçambique

Olá, seguidores do Panáfricas, temos uma boa notícia para contar. Ontem na coletiva com a imprensa internacional conseguimos fazer uma entrevista com o presidente Lula. Perguntamos ao presidente o que ele tinha aprendido com a África nesses oito anos de governo e de aproximação com os países africanos. A resposta é claro que deixaremos em segredo até a exibição futura do projeto Panáfricas. Apenas podemos adiantar que essa entervista foi ainda mais especial devido ao fato de ser essa a última viagem de Lula ao continente negro e, que foi aqui na Africa, que em 2002, o presidente pediu perdão aos africanos, em nome de todos os brasileiros, pela escravidão, um fato histórico que marcou o início de uma nova relação Brasil-África. Hoje fizemos mais uma excelente entrevista com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim sobre o mesmo tema.


Foto: Agência Brasil

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Chegamos em Moçambique

Depois de sete horas de viagem nas perfeitas estradas sul-africanas e um tempo enorme na fronteira entre a África do Sul e Monçambique negociando com os gurdas de imigração para não prenderem nosso carro, chegamos finalmente aqui na capital Maputo a tempo para o encontro dos presidentes Lula e Armando Guebuza.

O evento marca a última viagem de Lula ao continente africano e não poderiamos deixar de registrar esse momento histórico. Infelizmente nossa equipe esta reduzida, pois o jornalista André Santana teve de voltar para a Bahia um pouco antes devido a compromissos de trabalho, o que nos deixa triste. Daqui de Maputo seguiremos de volta para Johanesburgo na África do Sul para continuar nossas entrevistas sobre o fim do apartheid com ativistas e intelectuais. A viagem pela África Austral tem sido tão interssante como a que fizemos na ocidental..muitas imagens boas e histórias que daria para escrever vários livros..

Nota: Valeu André pelas horas de estrada, correria de produção, as noites mau dormidas, o velho Jollof Rice todos os dias, as cervejas quentes, os gritos que tivemos que dar para sobreviver nas horas tensão e de todas as aventuras que passamos juntos nesses 30 dias de viagem..nos veremos na velha roma negra para comer um bom acarajé :)

Por Paulo Rogério

Panafricas acompanhara Lula em Mocambique


Ontem, 08, ao visitar a Embaixada do Brasil na bela cidade de Pretoria, Africa do Sul, a equipe do Panafricas recebeu uma noticia que motivou mudancas no roteiro de gravacoes. O presidente Luis Inacio Lula da Silva escolheu Mocambique para realizar sua despedida do continente africano na condicao de presidente do Brasil. Lula chegou na noite desta segunda-feira em Maputo para compromissos na terca e quanta, quando fara uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique (a primeira a integrar a Universidade Aberta do Brasil, que capacita professores por ensino à distância) e participar da inauguracao da primeira fábrica de antirretrovirais financiada com dinheiro público em toda a África. A fabrica eh fruto da cooperação tecnica e financeira entre Moçambique e Brasil para treinamento

A equipe do Panafricas nao pensou duas vezes. Correu para uma locadora, alugou um veiculo e partiu para Maputo, que fica a aproximadamente 5h de Joanesburgo. A alteracao de rota contou com o apoio da Embaixada Brasileira na Africa do Sul, que alem de informacoes e contatos importantes no pais vizinho, possibilitou que os jovens comunicadores brasileiros nao ficassem perdidos na estrada: uma das funcionarias da Embaixada, Mari, emprestou gentilmente seu GPS para a equipe. Isso eh coisa de brasileiro. 

Vale destacar que o Projeto Panafricas tambem recebeu importante apoio da Embaixada Brasileira em Gana, atraves do embaixador Luis Fernando Serra. Ambas embaixadas forneceram transporte para a equipe, alem de contatos para entrevistas. Obrigado e parabens ao Itamaraty por cuidar dos brasileiros fora do pais.
Agora eh torcer para que a equipe consiga uma entrevista com o presidente Lula. E que as praias de Maputo sejam melhores que as de Durban e Cape Town (Africa do Sul), para onde a equipe iria esta semana. 

Na foto abaixo, os aventureiros em ordem de comando do veiculo: Mateus Damasceno, driver com pose de serio, Lucas Santana, assistente para ouvir o comando do GPS e Paulo Rogerio, assistente para confirmar se mapa e GPS estao de acordo!!! 


sábado, 6 de novembro de 2010

Africa do Sul são muitas Africas

 


Uma única sexta-feira (05/11) na cosmopolita Joanesburgo, cidade da Africa do Sul onde o Projeto Panáfricas cumpre o último roteiro desta primeira viagem a África, pode revelar diferentes surpresas e emoções. O relato é um pouco extenso, dada a intesidade de experiências vividas em um único dia: 

Pela manhã, filmávamos no centro econômico da cidade, entre edificios modernos e a arquitetura operária londrina, quando um protesto chamou nossa atencão. Funcionários do Call Center de diversos orgãos governamentais, demitidos da empresa que terceiriza o serviço, foram para as ruas protestar. Com cartazes, vuvuzelas e palavras de ordem, os jovens manifestantes circularam ruas do centro e pararam em frente a sede da Administracao Distrital (espécie de sub-prefeitura ou governo regional). Foi então que o ato de protesto, que parecia igual a outras reivindicações pelo mundo, ganhou seu diferencial africano. Os manifestantes passaram a cantar e a dançar de forma divertida e sicronizada. Parecia que brincavam, mas o canto, nas línguas seshoto e zulu, trazia mensagens politicas digiridas aos governantes. Um espaço foi aberto no centro da manifestação e as jovens exibiram suas danças – uma delas chegou a rolar pelo chão. Uma cena singular. 


Essa liberdade de expressão, os negros sul-africanos somente conseguiram com o fim do regime segregacionista de apartheid, em 1994. Antes disso, o país pertencia a minoria branca que ditava leis e excluiam a população negras de direitos fundamentais, como circular pela cidade. Havia espaços definidos entre brancos e não brancos nos serviços públicos, no transporte, na praia e até nas igrejas. Essa triste história está contada em imagens e textos no Museu do Apartheid, em Ormonde, próximo a Soweto. Ícone da luta pelos direitos humanos no mundo, o distrito de Soweto possui mais de um milhão de moradores – quase a metade da população de Joanesburgo. Suas ruas e casas foram cenários da resistência ao apartheid. Lá está a Casa de Nelson Mandela, primeiro presidente da África do Sul após o fim do regime segregacionista e artífice da integração que impediu o acirramento de conflitos entre negros e brancos no país. Em Soweto também é contado um outro tristes capítulo da historia da Africa. Em 1976, cerca de dez mil estudantes realizavam um protesto em Soweto contra o descaso com as escolas negras, quando foram repreendidos brutalmente pela polícia. O resultado foi a morte de quatro estudantes, incluindo o jovem Hector Pieterson de apenas 13 anos. Uma foto do jovem sendo carregado por amigos e um museu, instalado bem no local do conflito, impedem que moradores e visitantes esqueçam essa história. 

Após 16 anos do fim do regime de apartheid as crianças negras de Soweto podem sorrir e fazer sorrir quem vem conhecer a história do lugar. Nesta sexta-feira fomos recebidos por dezenas delas vestidas com roupas exageradas e divertidas. Meninos vestidos de menina e meninas fantasiadas de adultas. Cantavam, brincavam com quem passava e mostravam pequenos potes para receberam moedas pelos gracejos. Pelo que nos informaram, a brincadeira se repete todas as sexta-feiras de novembro. 

A noite em Joanesburgo ainda nos guardaria mais surpresas. Próximo a Soweto, no distrito de Lenasia, a aquipe do Panáfricas participou de uma celebração hindu. Lenasia reúne a população de origem indiana de Joanesburgo, grupo étnico significativo na África do Sul – em uma cidade como Durban, a comunidade indiana chega a 30% da população. A noite de sexta-feira marcou o fim de mais um ciclo anual para os hindus, que celebram a chegada do novo ano com a Festa das Luzes – Diwali. Muita queima de fogos, casas iluminadas e um grande encontro no Templo. O som dos fogos e da animação nas casas nos remeteu à noite de São João nas cidades do Nordeste brasileiro. Assim como Soweto era o bairro reservado aos negros, durante o apartheid, Lenasia mantinha a populacao indiana bem distante do centro de Joanesburgo. Quem nos convidou a conhecer Lenasia foi nosso amigo Stephen, cuja saga da sua família de origem indiana merece um post específico. 

No Templo, os hindus revelavam a todos os interessados a beleza e riqueza desta cultura milenar. Cores e brilhos, em altares, nas roupas e nos acessórios femininos. Na entrada do salão principal diversos pratos com comidas eram dedicadas aos deuses. Recebemos pintura na testa – representando o terceiro olho - e fita no pulso, além de sermos convidados a derramar água na cabeça da deusa Shiva, como uma prece. No Templo haviam muitos símbolos e rituais simultaneos. Difícil apreender tudo em uma única visita, mas o suficiente para perceber as semelhanças com as religiões tradicionais africanas, com seu grande número de deuses, os alimentos como oferenda, o poder sagrado feminino, além de gestos semelhantes, como bater a cabeça no chão em sinal de respeito a um mais velho. São práticas que se modificaram ao longo dos tempos, mas que possuem a mesma origem ... o solo africano. Namaste!!! Axé!!!

Tudo isso é a África do Sul! São as Áfricas!

André Santana

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Memorial Kwame Nkrumah e o pensamento panafricano



Nosso ultimo dia em Gana, 1º de novembro, foi dedicado ao pensamento e a ciencia produzidos no pais. Logo cedo, visitamos o belo campus da Universidade de Ghana, em Legon. Estivemos diante de uma imagem pouco exibida sobre a Africa: dezenas de estudantes de diversos cursos, como tecnologia e ciencias politicas, circulando entre predios bonitos e espacos arborizados. Na universidade, filmamos uma roda de dialogo entre a professora Akossua Adomako Ampofo, diretora do Instituto de Estudos Africanos, a professora Esi Sutherland-Addy e a graduanda Aseye Tamakloe. A conversa foi mediada pela mestranda em Ciencias Sociais, Rosana Chagas, e teve como temas os direitos das mulheres na Africa, alem de poligamia, machismo e homossexualidade. 


A tarde, visitamos o Memorial Kwame Nkrumah, no centro de Accra, onde esta o mausoleo do primeiro presidente do pais e de sua esposa, a egipcia Fathia Rizk. Soubemos pelo professor Carlos Moore que o casamento de Nkrumah foi uma estrategia politica. Com o matrimonio, ele queria unir a Africa subsaariana – a Africa negra – com a porcao arabe do continente, cujo mais importante pais eh o Egito. Fathia Rizk tornou-se uma grande companheira do marido e defensora do Pan-africanismo. Tanto que ao morrer em seu pais natal, em 2007, deixou um testamento pedido para seu corpo ser levado a Gana onde deveria ficar ao lado do corpo do marido, morto em 1972. 

No Memorial Kwame Nkrumah, o professor Carlos Moore nos concedeu uma excelente entrevista, revelando todo o pensamento que norteou a trajetoria de Nkrumah, sua referencia nas ideias de Marcus Garvey e W.Du Bois, sua coragem diante da Inglaterra ao levar Gana a torna-se a primeira nacao independente da Africa, em 1957, com impacto em todo o mundo, mas principalmente no continente negro, pois a partir de Gana, outros paises africanos conquistaram a independencia do poder colonial. O governo de Nkrumah, que durou ate 1966, deixou marcas definitivas no pais, ao investir em educacao, infra-estrutura e desenvolvimento e ao atrair cientistas e pensadores do mundo inteiro, que atenderam ao chamado de Nkrumah para quem Gana deveria estar aberta a todos os negros do mundo. Nao eh por acaso, entao, a efervescencia academica que vimos na Universidade de Ghana.




Carlos Moore deixou um recado para as novas geracoes de descendentes africanos espalhados na diaspora: “Voltem seu olhar e sua atencao a Africa, berco da humanidade. Todos os descendentes da Europa, buscam suas raizes, buscam seu passado. Os Judeus fazem o mesmo. Nos, africanos, filhos da diaspora, temos que nos voltar ao nosso passado, conhecer o que realmente aconteceu na Africa e como podemos fortalecer este continente. Sem a Africa, nao ha futuro na humanidade”.  


sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Comunidade Tabom: os retornados

Hoje visitamos a Casa do Brasil em Accra, onde se reúne a comunidade Tabom, descendentes dos ganenses escravizados no Brasil e retornados à Gana com o fim da escravidão. No belo casarão, com janelas para o mar e próximo ao farol do bairro de James Town, há uma pequena biblioteca e uma exposição sobre a cultura brasileira e a história da escravidão. Na casa há também curso da língua portuguesa para aqueles interessados no resgate da língua falada pelas sete famílias de retornados que após 1988 se integraram à comunidade Ga, de Gana, e trocaram experiências e conhecimentos. Além de nomes próprios comuns no Brasil (conhecemos aqui Luiz, Pedro, Nelson, Luiza, Simplicia etc), há palavras do português incorporadas ao vocabulário Ga, como cebola, camisa e sapato.
Os Tabom nos receberam com música e dança, com uma sonoridade percussiva muito conhecida por nós. Conversando com eles, percebemos um interessante diálogo religioso entre práticas mulçumanas (os retornados eram Malês) e da religião dos Orixás, como o culto a Xangô.
Todos demonstraram muito amor pelo Brasil e pela história preservada naquela casa e lamentaram o fato deles não conhecerem o país de seus antepassados. Os Tabom têm interesse em um intercâmbio entre Brasil e Gana, que possibilitasse o envio de pessoas da comunidade para estudar no Brasil, enquanto brasileiros viriam à Gana, estudar inglês e a rica hstória desse país. Fica a dica ao nosso Governo Brasileiro que, com certeza, possui mais condições para tocar um acordo desse, ainda mais pelo interesse demonstrado pelo presidente Lula de aproximação com o continente africano.
Ah, o nome Tabom refere-se à forma como os retornados se cumprimentavam no bom português coloquial: “Você tá bom?”.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Domingo de sol em Labadi Beach











No sábado, 23, nós estávamos tomando sorvete no Frankie´s, na Oxford Street, quando passou um carro anunciando uma festa na Labadi Beach. O Frankie´s é como se fosse a Sorveteria da Ribeira em Salvador, um lugar para um fim de tarde, tomar sorvete com a família, com a namorada, com o namorado, com os amigos e amigas... um lugar de happy hour para todos os gostos que pode ser acompanhado ao sabor de pistache. Quando o sorvete terminou, seguimos para a praia de Labadi, uma opção bastante badalada entre os ganenses. Mas, infelizmente, não tivemos sorte e as barracas estavam esvaziadas. O domingo prometia sol, e saimos da praia com o plano de voltar no dia seguinte.
No domingo fomos as primeiras a chegar na praia. Pensávamos esperar o restante do pessoal (André, Mateus, Paulo e Lucas) na praia, mas como tínhamos que pagar cinco cedis para entrar na praia, resolvemos esperar todos chegarem para poder negociar um preço para o grupo. Nos vinte minutos que esperamos pelos meninos foi legal observar quem chegava para passar um momento de lazer na praia. As pessoas não estavam vestidas com roupas de praia, da forma que nós conhecemos ou nos vestimos para ir à praia no Brasil. Nada de biquinis. A galera passeava vestidas normalmente, como se estivessem indo para qualquer outro lugar, mas não para a praia. Algumas pareciam que tinham vindo direto da igreja. Eu e a Ayeola chegamos a pensar que estava tendo algum evento específico na praia, talvez uma festa particular, só atravessando os portões para saber.
Quando os meninos chegaram, finalmente passamos para o outro lado. Fiquei encantada. Aquelas pessoas que passaram por nós vestidas das mais variadas formas, menos com roupa de praia, estavam - muitas delas - tomando banho de mar exatamente da forma que passaram por nós - de calça, de meia, de camiseta...
Ao final de uma semana dura de trabalho, Labadi é um convite ao lazer, celebrar com os amigos simplesmente a vida. Foi isso que eu vi em Labadi Beach. A minha impressão é que ninguém estava ali pretendendo nada, ninguém se importava se um estava tomando banho de mar vestido com uma calça ou de vestido, ou se estava debaixo do sombreiro vestidos como se estivessem indo a um baile. Labadi é para vir e relaxar como na praia da Barra, Boa Viagem, Ipanema, Copacabana, Porto de Galinhas.....
Acho que as fotos falam por si...


Esse texto é uma colaboração de uma amiga do projeto Panáfricas, Rosana Chagas, que também está em Gana.






terça-feira, 26 de outubro de 2010


Hoje filmaremos no Centro W.E.B Dubois aqui em Accra. O objetivo da entrevista é saber mais sobre a importância de Gana para o movimento panafricanista do século XX e sobretudo da interessante história de Dubois, um grande teórico afroamericano, fundador da NAACP (Assoicação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor), criador dos primeiros encontros panafricanistas do início do último século e entusiasta do desenvolvimento da África. Quando Kwame Krumah assumiu o poder em Gana para criar os Estados Unidos da África, em 1957, Dubois foi seu consultor pessoal e tinha o projeto de construir a Enciclopédia Africana. Por suas convicções panafricanas, recusou a cidadania americana e vivendo aqui sua esposa até os últimos dias de sua vida.


Veja no link ao lado a biografia completa de WEB Dubois em inglês: http://en.wikipedia.org/wiki/W._E._B._Du_Bois


sábado, 23 de outubro de 2010

Sem parar

Chuvas fortes no inicio da semana e uma greve na universidade local dificultaram o andamento das filmagens, mas conseguimos entrevistar um etnomusicologo e um musico, ambos ligados ah cena do highlife e do afrobeat. Hoje faremos imagens da cidade de Acra, e batemos um papo como prof. Carlos Moore sobre a historia recente de Gana.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Acra, capital do panafricanismo?

Chegamos há três dias em Acra, capital de Gana, cidade que também pode ser chamada de capital do panafricanismo devido a sua história. Foi aqui que, em 1957, o lider Kwame Nrumah declarou a primeira independência de uma nação subsaariana. Foi também a partir de Acra que a mensagem de unidade africana correu pelos quatro cantos do continente dando origem a hoje chamada União Africana precedendo inclusive a União Europeia.

Acra é  mais desenvolvida e organizada que a cidade deLagos, na Nigéria, embora Gana busque hoje a posição de líder regional na África Ocidental. Não foi por acaso que o país foi escolhido por Obama para fazer seu primeiro discurso em um país africano mesmo tendo sua origem no Quênia, que também é uma potência econômica, mas fica situada na África Oriental.

Em conversa com moradores locais, descobrimos que a cidade e o país poderiam ser melhores se não fosse pelo golpe militar que tirou Nkrumah do poder. Os moradores dizem que quase toda a infraestrutura que encontramos aqui (aeroporto moderno, ruas bem pavimentadas, eletricidade etc ) datam da gestão de Nkrumah, a partir da década de 1960.

Nos próximos dias iremos filmar personalidades que vão falar sobre a história de Kwame Nkrumah; faremos também outras pautas relacionadas ao panafricanista W.E.B. Dubois, um intelectual afroamericano que decidiu passar seus últimos dia aqui, e amigos de Fela Kuti que vieram para Gana.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

`Stamos em pleno mar

Filmar na Nigéria é uma experiência angustiante. Diante de imagens impactantes e situações que desafiam a compreensão - mesmo dos baianos surrados - nos sentíamos de mãos atadas, seja pela urgência do conflito urbano, seja pela simples imposicao das autoridades. Nossa alternativa foi registrar de dentro do veículo que nos foi disponibilizado pelo Ministerio do Turismo do estado de Lagos, ou do táxi que nos conduziu pela capital, Abuja. Nada satifsatorio - muito limitador de nossas possibilidades.

Saimos a salvo, contudo, ao contrário de uma colega alemã da agência Deutsche Welle, cuja câmera fora roubada pelo taxista contratado pela emissora na capital Abuja: para ter certeza de que não haveria resistência, o motorista fez questão de esfaqueá-la nos dois braços.

Estamos em Acra, capital de Gana. Esperamos melhor sorte.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Felabration com Femi Kuti e irmãos

Texto André Santana 
Fotos Lucas Santana

Nossa última gravação na Nigéria registrou o show de Femi Ransome-Kuti, filho mais velho de Fela Kuti, no encerramento do Felabration 2010 - Viva África, festival realizado anualmente para promoção do afrobeat e cultura africana, baseado no legado deixado por Fela Kuti. O evento foi realizado no New Afrika Shrine, casa de shows já citada neste blog no post "Nigéria, finalmente".

Sem dúvida, foi o momento mais esperado do festival. Com beleza e animação peculiar, as oito dançarinas de Femi subiram ao palco com roupas e pinturas semelhantes às das dançarinas de Fela. Além de dançar e cantar com muita sensualidade, as moças ainda tocam percussão. Pouco antes do encerramento, três filhos de Fela cantaram juntos - Femi e Yeni, do primeiro casamento com Remi Taylor, e Seun, fruto da união de Fela com uma das 27 dancarinas com as quais ele se casou em uma única cerimônia, no ano de 1978. É! Essa é uma história e tanto, merece ser contada em outro post.

Embora carregue grande influência musical de seu pai, Femi não incluiu músicas de Fela no repertório da noite. A proximidade ideológica, entretanto, existe e pode ser percebida nos discursos políticos em prol da integração africana sempre citados durante o show. Para nosso companheiro de expedição, Paulo Rogério, a música de Femi é de composição "mais comercial". Podemos até compará-la, de forma rasteira, a axé music, em Salvador, no sentido de ambas serem um ritmo feito para dançar e animar grandes plateias. E foi realmente o que aconteceu: todo mundo cantou e dançou durante o show. Com canções menos experimentais que os originais acordes do afrobeat criados por Fela, Femi consegue empolgar quem o assiste.

Ao final, Yeni Kuti, coordenador do festival, mandou um recado para o Brasil: "No próximo ano, queremos artistas brasileiros na programação do Felabration". Com certeza será uma honra. Esperamos estar aqui novamente para prestigiar nossos artistas em solo africano.

[Discografia Femi Kuti]
No Cause For Alarm? (1989, Polygram)
M.Y.O.B. (1991, Meodie)
Femi Kuti (1995, Tabu/Motown)
Shoki Shoki (1998, Barclay/Polygram/Fontana MCA)
Fight to Win (2001, Barclay/Polygram/Fontana MCA/Wraase)
"Ala Jalkoum" (on the album Rachid Taha Live) (2001, Mondo Melodia)
Africa Shrine (2004, P-Vine)
Live at the Shrine (Deluxe Edition DVD) + Africa Shrine (Live CD) (2005, Palm Pictures/Umvd)
The Best of Femi Kuti (2004, Umvd/Wraase)
Femi Kuti The Definitive Collection (2007, Wraase Records) 
Grand Theft Auto IV soundtrack (2008, IF99)
Hope for the Hopeless (2008)
Day by Day (2008, Wrasse Records)

domingo, 17 de outubro de 2010

Escola

Fotos André Santana

Mrs F. Kuti Nursery & Primary School em Abeokuta, estado de Ogun, Nigéria. A equipe visitou o centro educacional da família Ransome-Kuti na segunda metade do século 20. Aqui Fela Kuti fez seus primeiros estudos antes de partir para a Inglaterra, onde cursou música. A recepção foi calourosa - chegamos bem no horário encerramento da aula. Tivemos oportunidade de conhecer diversos estudantes, todos com uniforme composto por camisa branca, calção marrom, meias brancas e sandália.

A menina da foto acima traz em seu rosto uma das caracteristicas da etnia yoruba: cicatrizes de cortes que marcam ascendencia familiar. Duas nas bochecas e três no queixo.

Cultura

Comum ver em África (Angola, Nigéria, Costa do Marfim etc) mulheres carregando todo tipo de mercadoria na cabeça. E como se não bastasse tamanho equilíbrio, ainda trazem o filho nas costas, amarrado com o suporte de um tecido colorido. São caixas e tabuleiros com produtos a serem comercializados, como garrafas de água e sucos, raízes e frutas como inhames, banana (que aqui tem a casca verde, o que difere da plantain - a nossa banana da terra)  e o que mais for preciso. Hábito tão comum incorporado, inclusive, nas placas de sinalização, nas quais, frequentemente, pudemos ver a imagem de uma mulher com um tabuleiro na cabeça acompanhado por um sinal de proibição, certamente para evitar confusão causada pelo vaivém de carros, pedestres ... e, é claro, as mulheres com seus tabuleiros. Manicures carregam todos os materiais de trabalho (esmalte, tesoura, algodão) na cabeça, facilitando para que o serviço seja realizado em em qualquer luga - na rua, nos pontos de ônibus ou nas residências das clientes. Na foto, nosso cinegrafista Mateus Damasceno e o jornalista André Santana conseguiram o consentimento de uma moradora de Lagos para fazer o registro, o que não é nem um pouco comum por aqui. 

Lemi Ghariokwu

Postado por Erick Robert

Aqui em Lagos, filmamos com o artista plastico nigeriano Lemi Ghariokwu, responsavel pelas capas dos discos de Fela Kuti, do qual era muito amigo. Lemi fez tambem a capa da primeira edicao africana do livro `Fela: this bicht of a life`, de Carlos Moore, que esta sendo lancada neste momento na Nigeria.  

Conhecemos o atelie de Lemi e ficamos impressionados com os quadros pintados por ele. Sao desenhos cheios de referencias a cultura e politica da Nigeria, com muitas cores e palavras de impacto. Lemi se considera um artista contemporaneo e nao gosta do rotulo limitador de artista africano. A arte de Lemi eh reconhecida em todo o mundo. Uma de suas obras, Anoda Sistem, integra o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, um dos mais disputados do mundo. Lemi tambem pintou capas de discos de outros artistas, como o reggaeman jamaicano Bob Marley. 

A foto acima foi tirada no aeroporto Murtala Muhammed, de Lagos, quando Carlos Moore e Lemi Ghariokwu se encontraram apos 28 anos. Na foto abaixo, toda a nossa equipe no estudio de Lemi.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

+ bastidores [Lagos, Nigéria]




Pauta do dia

Acabamos de gravar com Duro Ikunenyo ex-pianista de Fela Kuti

Bastidores

A semana foi tensa e cheia de atividades. Demoramos em dar notícias devido a má qualidade da conexão (internet) que encontramos por aqui. Filmamos com duas ex-esposas de Fela Kuti. Fomos também a Abeokuta, cidade onde nasceu o inventor do afrobeat. Em Lagos, filmamos no bairro brasileiro a Kalakuta (comuna criada por Fela) e na Shrine, a casa de show também criada por ele. Tudo foi feito em meio ao caos social e diversidade cultural que é a cidade de Lagos.

Equipe documenta Carlos Moore (direita) entrevistando Najite, uma das 27 ex-mulheres de Fela Kuti. No fundo, o túmulo do gênio da musica africana.

sábado, 9 de outubro de 2010

A música é a arma [documentário]


Parte IV :: Parte V







Em breve será lançado o livro "Fela: this bitch of life",
do escritor Carlos Moore em português.
Confira abaixo a versão nigeriana do livro
lançada este ano pela editora Cassava Republic.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nigéria, finalmente

Postado por Paulo Rogério
A primeira parte de nossa equipe chegou hoje em Lagos, na Nigéria, após uma longa viagem saindo de Salvador (Bahia). Os jornalistas André Santana e Mateus Damasceno estão hospedados em Ikoyi, bairro ligado à ilha Victoria por meio de uma ponte. Por lá, está localizada a sede do Governo Federal, além de alguns prédios militares e um presídio de segurança máxima. Abaixo segue o mapa indicando a pousada.



Exibir mapa ampliado

Mas vamos falar sobre o que interessa. A equipe visitou hoje a Shrine (altar, em inglês), casa de shows fundada por Fela Kuti onde rola música toda semana. É claro que o som lá é o famoso afrobeat, criado por Fela, atualmente disponível em sua versão original apenas em Lagos. Amanhã a equipe segue para gravação com Carlos Moore e Lindsay Barrett.

Anote aí: Dia 15/10 é o aniversário de Fela Kuti. Estaremos na Nigéria acompanhando de perto a comemoração. No Brasil, vai ser celebrado o FELA DAY. O cartaz acima foi feito pelo Coletivo Blackitude, ano passado, para comemorar a data.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ainda não conhece Fela Kuti?

Então ouça esta música!

África: aí vamos nós!

Por Paulo Rogério
Estamos de malas prontas para a grande viagem rumo ao continente africano. Serão aproximadamente cinco semanas de muita emoção e aprendizado. A equipe conta com um guia especial, o professor Carlos Moore, eminente conhecedor da África,  que para nossa felicidade escolheu a Bahia como residência, estado originário desta expedição.

Lagos: segunda cidade mais populosa da África. Tem crescido de forma explosiva ao longo dos anos. Em 1950, eram cerca de 300 mil habitantes. Segundo a ONU, em 2010, a cidade deve atingir 18 milhões de habitantes, tornando-se uma das dez maiores cidades do mundo.

Nesta quinta-feira, 7 de outubro, uma parte de equipe já segue para Lagos, na Nigéria, via Johanesburgo, com o objetivo de chegarmos a tempo de cobrir o Felabration - festival anual em homenagem a Fela Kuti. Por lá, vamos documentar uma conversa pública de Carlos Moore com Lindsay Barrett, grande escritor jamaicano que mora desde a década de 1970 na Nigéria. Além disso, vamos fazer contato com Wole Soyinka, o primeiro africano a ganhar o prêmio Nobel de literatura - infelizmente ainda não foi traduzido para o português. 

Partimos de Salvador (BA), considerada a segunda maior cidade negra do mundo. São cerca de 14 horas de voo até a  maior cidade negra do planeta, Lagos, na Nigéria. Depois passaremos por Abeokuta e Abuja, ainda na Nigéria, Acra e Cape Coast, em Gana, além de Johanesburgo, na África do Sul.

Estaremos em solo africano até o dia 20 de novembro. Salve este blog nos Favoritos e não deixe de acompanhar nossa trilha pelo berço da humanidade. 

Até mais! Nos vemos na estrada.